O ano de 2021 foi difícil para a grande maioria das pessoas. Entre tantas dificuldades enfrentadas, sem dúvida, podemos também incluir a questão climática. Foi o caso do clima em Dourados, MS, que em 2021 apresentou comportamento totalmente atípico, com estiagens, chuvas mal distribuídas, períodos muito quentes e inverno frio. Grande parte desse comportamento atípico pode ser atribuído à influência de La Niña, fenômeno climático, ativo de janeiro a maio e de agosto a dezembro, ou seja, praticamente todo ano de 2021. Analisando-se os Boletins Agrometeorológicos mensais do sistema Guia Clima, podemos verificar como foi o comportamento do clima em Dourados no transcorrer de 2021.
O ano iniciou com muita chuva. Janeiro de 2021 foi o mais chuvoso da série meteorológica de 43 anos da Embrapa Agropecuária Oeste de Dourados. Choveu 345 mm; mais que o dobro da média.
No entanto, após a esse janeiro extremamente chuvoso, iniciou a primeira estiagem do ano, um período de quatro meses, com chuvas escassas e mal distribuídas.
Em fevereiro choveu apenas 47 mm em Dourados e em março 40 mm, 30% da média desses meses. A estiagem continuou em abril e maio, meses em que choveu, respectivamente, apenas 37 mm e 36 mm, ou seja 35% e 34% da média histórica.
Com base na série histórica, de fevereiro a maio é esperado que chova em torno de 500 mm. No entanto, em 2021 choveu apenas 160 mm, ou seja, um terço do esperado. De 17 de fevereiro a 31 de maio, durante 120 dias, os solos de Dourados estiveram com níveis insatisfatórios de umidade.
Após essa estiagem, as chuvas voltaram em junho. Concentradas no primeiro decêndio do mês, as chuvas totalizaram 133 mm, quase o dobro da média.
O mês de junho iniciou com temperaturas altas, mas com a entrada na região de uma massa polar, ocorreram temperaturas muito baixas. Nos últimos dois dias do mês houve formação de geadas.
Julho de 2021 foi o mais frio dos últimos 14 anos em Dourados. O frio intenso foi causado pela entrada de três massas polares na região. Em seis dias houve formação de geadas. Além disso, não ocorreram chuvas no mês de julho.
Agosto, ao contrário de julho, apresentou temperaturas muito altas. Foi o mês de agosto mais quente dos últimos seis anos. As chuvas ocorreram somente no final do mês e totalizaram 46 mm, praticamente igual à média.
As temperaturas altas continuaram e setembro de 2021 foi o mês de setembro mais quente da série histórica de 43 anos. Além disso, as chuvas foram escassas, totalizando 49 mm, metade da média.
Nos meses de julho, agosto e setembro, normalmente, há redução do volume das chuvas, uma das características do inverno seco da região. Mas em 2021 essa redução das chuvas foi ainda maior. É esperado que chova nesses três meses, em torno de 200 mm. No entanto, em 2021 choveu apenas 95 mm, menos da metade do esperado. Nesse período de 92 dias, os solos de Dourados permaneceram 80 dias com níveis insatisfatórios de umidade.
Após a segunda estiagem do ano, ocorreram chuvas expressivas em outubro. Choveu mais de 100 mm acima da média do mês e, devido às chuvas frequentes, as temperaturas foram mais amenas.
No entanto, assim como ocorreu na maioria dos meses anteriores, as chuvas foram escassas em novembro. Em 2021 ocorreu o mês de novembro com o menor índice pluviométrico da série histórica. Choveu apenas 47 mm, 30% da média.
Finalizando 2021, ocorreu em Dourados o mês de dezembro mais quente dos últimos 36 anos. As chuvas continuaram escassas e mal distribuídas. Choveu apenas 68 mm em dezembro, 39% da média.
Em novembro e dezembro, final de primavera e início de verão, são esperadas chuvas expressivas, próximas a 330 mm. Mas em 2021 ocorreu a terceira estiagem do ano. Choveu somente 115 mm, aproximadamente um terço do esperado. Nos 61 dias dos meses de novembro e dezembro, os solos permaneceram 53 dias com níveis insatisfatórios de umidade.
Houve predominância de temperaturas acima das médias em 2021 em Dourados, apesar da ocorrência de alguns períodos de frio intenso nos meses de junho e, principalmente, julho. Como consequência, a temperatura anual média em 2021 foi 23,4 °C, três décimos de grau superior à média histórica, que é 23,1 °C.
A chuva anual média em Dourados é de 1400 mm. Em 2021 choveu apenas 1109 mm, quase 300 mm a menos que a média. Foi o ano com o menor volume de chuvas desde 2001. Chama a atenção que nos últimos três anos, desde 2019, o total anual de chuvas está sendo inferior à média histórica.
AUTOR: Carlos Ricardo Fietz - Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste - Dourados, MS - carlos.fietz@embrapa.br