Mato Grosso do Sul registrou recorde no número de pessoas internadas em decorrência da Covid-19 em toda a pandemia. Nesta quinta-feira (4) havia 683 pessoas hospitalizadas em leitos clínicos e de unidades de terapia intensiva (UTIs) no Estado.
Esse é o maior número de internações de casos confirmados de toda a pandemia em MS. A última vez que a ocupação chegou nesse patamar foi no boletim epidemiológico do dia 22 de dezembro, quando havia 678 pessoas internadas por causa da Covid-19.
De acordo com o infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda, este é apenas o começo da alta de casos e internações no Estado. “O cenário é bastante complicado. Vai ser complicado o mês de março, e não vejo os principais gestores [governador e prefeito] se posicionando a respeito do cenário futuro”.
O infectologista detalha que na tarde de ontem restavam apenas 28 leitos disponíveis no Estado, que pode entrar em colapso a qualquer momento nos próximos dias.
“Apenas 28 leitos para colapsar. Está só no começo da piora, sem se recuperar de dezembro e janeiro. Sem nenhuma perspectiva de abertura de novos leitos ou muito poucos”.
Croda destaca que o motivo do novo pico de casos e internações está relacionado com a circulação da nova variante, que teve o primeiro caso confirmado no Estado na quarta-feira. “O que com certeza causou isso foram a nova variante, que é muito mais mais transmissível, e a falta de medidas preventivas – foi liberado até reunião com 120 pessoas”.
TEMOR
O infectologista conclui que, se a tendência se manter e nada for feito até o fim da próxima semana, Mato Grosso do Sul estará em colapso. “Falta pouco: os 100% de ocupação estão próximos”.
O secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, afirma que a situação atual é resultado da desobediência da população aos protocolos de biossegurança e da falta de adesão dos gestores municipais.
“Nós estamos colhendo o que plantamos, frutos da desobediência civil do Estado. A população não contribui para o isolamento social, e tem uma parcela que acha que usar máscara é inapropriado, o que faz com que haja um alto grau de transmissibilidade, que aumenta o número de óbitos e internações”, ressalta.
Resende complementa que a falta de adesão dos municípios é em razão do medo dos gestores quanto à reação da população. “Gestores seguem as pressões da população dos municípios, e as regras que deveriam ser adotadas não são adotadas e o resultado é isso”.
De acordo com o secretário, a alta nos registros também está relacionada à cepa P.1, que possui um alto grau de agressividade e transmissibilidade do vírus. “A variante tem um contágio muito mais forte, uma quantidade muito maior de vírus e pode estar presente em várias regiões do Estado já. Nós vamos ter um quadro grave se não tivermos a adesão imediata dos prefeitos às medidas que devem ser adotadas pelos gestores municipais”.
O secretário ainda pede para que os municípios de MS acelerem a vacinação da população dos grupos de risco e apliquem as doses disponíveis o mais rápido possível. “Vacina não tem de estar na geladeira, tem de estar no braço de cada cidadão do grupo de risco. Temos de convocar toda a população para a imunização”.
HOSPITALIZADOS
Segundo o boletim epidemiológico publicado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), do total de internados, 361 estão em leitos clínicos (232 em hospitais públicos e 129 em hospitais privados) e 322 estão em leitos de UTI (247 públicos e 71 privados).
Conforme dados do sistema Mais Saúde, do governo do Estado, Mato Grosso do Sul tem 88,01% de ocupação das vagas de UTI para tratamento exclusivo da Covid-19. A Capital está com 96,15% da ocupação de leitos.
A macrorregião de Dourados apresentou a maior taxa de ocupação nesta quinta-feira, 94%, seguida por Campo Grande, 91%, Três Lagoas, 88%, e Corumbá, 75%. Além dos pacientes com coronavírus que estão hospitalizados, Mato Grosso do Sul conta com 8.581 casos confirmados em isolamento domiciliar.
ALÉM DA CAPACIDADE
O pronto-socorro do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap-UFMS) está operando com 26 pacientes além de sua capacidade, equivalente a 236,84% de ocupação. Ao todo, são 19 leitos na unidade, que atende 45 pacientes atualmente.
O hospital fechou parcialmente a ala na segunda-feira (1º) por causa da superlotação, quando estava com 100% de ocupação. A unidade só está atendendo pacientes enviados com vaga zero (urgência máxima) pela regulação da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), responsável por distribuir os pacientes. Mesmo lotado, o hospital é obrigado a aceitar.
No Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, unidade de referência para tratamento da doença no Estado, todos os leitos ocupados são de pacientes com suspeita ou confirmados com coronavírus. Dos 118 leitos no local, 108 estão ocupados. (Com informações Jornal Correio do Estado).