Caminhoneiros de várias regiões do País estão se mobilizando para iniciar uma greve hoje em todo o território nacional. Porém, em Mato Grosso do Sul, ainda não há sinal de interesse da categoria em participar da greve, apenas uma entidade confirmou a paralisação no Estado e outras duas negaram que os caminhoneiros sul-mato-grossenses farão parte do movimento.
A movimentação nacional foi inflacionada, principalmente, depois de um áudio atribuído ao ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, dizendo que não vai atender a nenhum item da pauta dos motoristas que anunciaram a greve, e que eles deveriam “desmamar do governo”.
O áudio está sendo compartilhado pelo aplicativo de mensagens WhatsApp, nos grupos de caminhoneiros. O ministro confirmou que o áudio é realmente dele e frisou que ele estava esclarecendo o papel do governo, dizendo o que é e o que não é possível fazer.
Em nota, o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência de Mato Grosso do Sul (Sinpetro), informou que está acompanhando a movimentação e que acredita que não haverá greve.
O Sindicato dos Trabalhadores em Transporte de Cargas (Sindicargas) também afirmou que Mato Grosso do Sul não deve participar da greve.
De acordo com o representante do Sindicato dos Caminhoneiros de Mato Grosso do Sul (Sindicam-MS), Roberto Sinai, muitos trabalhadores optaram por continuar trabalhando.
“A grande verdade é que a paralisação traz muitos prejuízos, principalmente para os próprios caminhoneiros, que deixam de faturar”, coloca.
“Só se paralisa uma categoria, principalmente grande como a nossa, quando se esgota todos os recursos, quando não tem mais como negociar e precisa-se daquele benefício”, acrescenta Roberto .
Em contraponto, o porta-voz do Conselho Nacional dos Transportadores Rodoviários de Cargas, Fabiano Soares, afirmou que tem a definição dos pontos em que haverá paralisação e que Mato Grosso do Sul participará do movimento, mas que os locais ainda não foram divulgados por uma questão estratégica.
Indecisão
Ao jornal O Estado de São Paulo, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, minimizou a greve e disse que tem mantido o diálogo com lideranças do movimento, garantindo que não haverá adesão da maior parte dos trabalhadores.
“Vai ser um movimento fraco, não vai ter adesão. As empresas de transporte não vão parar, os principais sindicatos não vão parar. Tenho recebido mensagens de apoio de diversos líderes de caminhoneiros. Eles não querem parar, querem trabalhar. Esse é o sentimento geral”, colocou Tarcísio.
A greve foi confirmada por frentes nacionais, mas muitos caminhoneiros têm se mostrado contrários à adesão no movimento que reivindica duas pautas principais.
Uma é referente a redução de cobrança de PIS e Cofins sobre o óleo diesel, para reduzir o preço do combustível na bomba e a outra é o aumento da tabela de fretes de transporte que cobram na prestação de serviços.
“É claro que temos muito para reivindicar. Queremos mais qualidade de vida para o trabalhador de transporte, mais segurança, melhores fretes, melhores ganhos, mas, mesmo com tudo isso, vamos continuar reivindicando com os caminhoneiros trabalhando. Não vamos parar. Mato Grosso do Sul continua trabalhando”, enfatiza Roberto Sinai, representante do Sindicam.
“Sobre o PIS/Cofins, por exemplo, se você tira um centavo, são R$ 800 milhões a menos na arrecadação. E o governo federal já zerou a Cide [Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico]. O PIS/Cofins, que era 46 centavos, hoje está 33 centavos.
Então, estamos fazendo o que é possível fazer e que está ao alcance do Ministério da Infraestrutura. Se isso ocorrer, é preciso ter fonte compensatória, e isso vai significar onerar alguém. Estamos na iminência de uma reforma tributária. É isso que eu falo no áudio”, esclareceu Tarcísio ao jornal O Estado de São Paulo.
A Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Autônomos (Abrava) e a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) também se posicionaram contra o movimento organizado para hoje. Assim como outras entidades, disseram que este não é o momento propício para greves, e ainda levaram em consideração a pandemia da Covid-19.
Em entrevista ao Broadcast, ontem, o presidente da Abrava, Wallace Landim, um dos principais líderes da greve dos caminhoneiros em 2018 disse que a categoria não pode ficar de “braços cruzados” e que precisa sim reivindicar as conquistas do movimento em 2018, porém, a manifestação hoje tem um cunho político em que alguns defendem o presidente e outros se colocam contrários ao governo.
“Uns estão focando na questão da eleição na Câmara e no Senado. Outros estão contra os governadores”, afirmou o presidente.
“Tem alguns caminhoneiros que entendem que precisam parar, porque não têm condições de rodar. Mas o cenário hoje é totalmente diferente de 2018. Estamos no meio de uma pandemia mundial. Tentamos passar para os caminhoneiros que precisamos ter responsabilidade. Estamos na beira do abismo, mas uma paralisação agora pode levar direto para o abismo, porque podemos perder o apoio da população”, coloca Wallace. (Com informações Jornal Correio do Estado).