Seis anos após o acidente aéreo sofrido pelo apresentador Luciano Huck e sua família em Mato Grosso do Sul, o Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), responsável pelas investigações, finalizou a fase de exames periciais do caso.
A partir da análise das provas, foi concluído que a pane na aeronave se deu pela instalação invertida de um capacitor do tanque de combustível. Com o problema de instalação, o painel do avião indicou que ainda havia uma quantidade de combustível no tanque, quando, na verdade, não tinha.
A delegada Ana Cláudia Medina, que conduz o caso, informou que para chegar ao resultado foram realizados alguns exames de maneira indireta após o recolhimento de denúncias, em 2017. Desta forma, o piloto da aeronave, Osmar Frattini, não pode ser responsabilizado pela falha ou queda.
“Nós fizemos uma reprodução simulada dos fatos, utilizando uma aeronave de mesmo modelo e ano. Os capacitores foram invertidos em solo, por nossa equipe especializada, para verificar qual era a leitura que se daria no instrumento, assim como foi no dia do ocorrido. Nós constatamos que dava combustível na aeronave mesmo sem ter, ou seja, indicava mais [combustível] quando se invertiam esses capacitores”, afirmou Medina.
Junto à chamada “reprodução simulada”, a Dracco também se encarregou de buscar laudos e fotos da época, marcas que porventura haviam no bimotor dentro do que poderia ser original ou não, e fez entrevistas com pilotos e mecânicos.
Procurado pelo Correio do Estado, o advogado do piloto, Wagner Leão, disse que Osmar ressaltou que só aceitaria se manifestar sobre o assunto mediante pagamento: “Vamos criar uma forma de cobrar desses jornais, porque eu estou quebrado, sem grana. Meu carro quebrou, estão lá R$ 3.000 para pagar. O meu problema é financeiro, então, vamos cobrar uma taxa para cada reportagem dessa aí”, explicou o advogado.
Questionado, Wagner repassou que a taxa solicitada pelo seu cliente é de R$ 7 mil por entrevista.
A partir de agora, de acordo com a delegada, será iniciada a fase de responsabilização das pessoas que tiveram acesso à manutenção irregular do avião, para que aqueles que tiveram ligação com o fato sejam indiciados.
Sobre os investigados, a delegada respondeu que podem ser incluídos “gerentes operacionais, proprietários da empresa e todos que tiveram ligação direta com o fato”. Também serão investigados os profissionais que promoveram a manutenção, invertendo o capacitor, e quem assinou e realizou o serviço.
Segundo a delegada, podem ser caracterizados com base no acidente os crimes de atentado à segurança de voo, lesão corporal por dolo eventual, já que tinham servidores não habilitados realizando a manutenção da aeronave, e fraude processual, pelo serviço de manutenção ter sido lançado por uma pessoa e realizado por outra, sem supervisão.
“Também tem de ser verificada a questão do pagamento que foi feito para a empresa, isso é uma questão fiscal”, completou. O bimotor foi contratado da MS Táxi Aéreo, e, como mostram as investigações, o pagamento do serviço foi montado pelo gerente da empresa.
Conforme informou a Dracco, a família Huck foi contatada sobre as atualizações periciais, mas ainda não respondeu.
ACIDENTE
O casal de apresentadores Angélica e Luciano Huck sofreu um acidente aéreo em 24 de maio de 2015, nos arredores de Campo Grande, após o avião em que eles estavam sofrer uma pane.
Ao todo, a aeronave era tribulada por nove passageiros. Além do casal, também estavam presentes os filhos dos apresentadores, Joaquim, Benício e Eva, as duas babás, Marcileia Eunice Garcia e Francisca Clarice Canelo Mesquita, o piloto, Osmar Frattini, e o copiloto, José Flávio de Sousa Zanatto.
A família teria vindo a Mato Grosso do Sul para acompanhar Angélica na gravação de uma temporada especial do programa “Estrelas”, conduzido por ela na época, sobre o Pantanal.
Já na volta para casa, o avião modelo Embraer 820C decolou da Estância Caiman, em Miranda (MS), em direção ao Aeroporto Internacional de Campo Grande, mas precisou fazer um pouso de emergência e acabou caindo em uma fazenda na região de Rochedo, próximo à Capital.
Após a queda, os passageiros foram socorridos pelo Corpo de Bombeiros e encaminhados para a Santa Casa de Campo Grande, apenas com escoriações.
ERRO DETECTADO
A descoberta de que a queda do avião foi ocasionada por problemas em sua asa esquerda foi do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão da Aeronáutica que apura acidentes aéreos no País.
O relatório do órgão militar evidenciou que uma pane seca foi a causa do acidente. “Após 35 minutos de voo, a aproximadamente 43 milhas náuticas do destino, no início da descida, ocorreu o apagamento do motor esquerdo. Em função da incapacidade de manter a altitude, a tripulação realizou o pouso forçado na fazenda”, ressaltou o relatório.
No anúncio, o Cenipa também apontou falhas em relação à manutenção da aeronave, dizendo que “apesar de o manual de serviços MS-NE-821/003, Rev. 09 de 22 de fevereiro de 2007, prescrever que os sensores de combustível deveriam ser inspecionados quanto ao estado geral e à segurança nas inspeções de 500 e 100 horas, nenhuma escrituração relativa ao sistema de combustível foi encontrada nas cadernetas de manutenção”.
Assim como repassou a delegada Medina, o órgão constatou a falta de preparação da equipe que conduzia o avião. “A rotina operacional da tripulação não era supervisionada pela empresa, cabendo à tripulação o planejamento dos voos. A própria tripulação planejava os voos de acordo com o destino e o tipo de missão. A responsabilidade e a autonomia eram dadas ao comandante para decidir sobre a realização ou não de voos, sendo o mesmo responsável por analisar e julgar as condições para tal”, concluiu o texto. (Com informações Jornal Correio do Estado).