Pode ser que porventura, pareça ficção, mas aconteceu parecido em muitos lugares desse rincão e assim começo a crônica dessa semana. Afirmo que o que temos de ter no coração é outro sentimento: o de não deixar fatos próximos a nós virarem rotina ou nem tomarmos conhecimento. Isto é:apesar de ser um conto fictício se olharmos em volta encontraremos alguém com alguma necessidade,com algum anseio e essa é a moral da história posto que sempre tem alguém pior do que nós, mas que as vezes precisa somente de uma palavra nossa ou um aperto de mão,um medicamento,uma opinião; e somente unidos poderemos fazer a diferença em nossas vidas. E por isso peço: Leia com atenção...
Angela era uma menina calada. Procurava estudar muito. Entretanto, na hora do recreio ficava afastada dos colegas, como se estivesse pensando no infinito, conversando com anjos. Mas existia uma particularidade: Outras meninas zombavam dela, por causa das suas meias amarelas . Um dia, alguém incomodado com aquela mesmice lhe perguntou porque só usava meias daquela cor. Com a singeleza de seu coração expressa nas palavras balbuciou: "Um tempo atrás, em abril, quando fiz aniversário, minha mãe me levou ao circo; e colocou em mim essas meias amarelas. Eu ponderei e até argumentei que pessoas iriam rir de mim por esse motivo. Entretanto ela com aquele olhar de ternura disse que tinha um motivo muito forte para me colocar as tais meias. Disse que se eu me perdesse, bastaria ela olhar para o chão e quando visse uma garota de meias amarelas... claro lá estaria eu !
"Ora", disse a colega retrucando."mas você não está num circo. Por que não tira essas meias esquisitas e as joga fora?
Angelinha olhou para os próprios pés, talvez para disfarçar o olhar lacrimoso e explicou: "Eu sei,eu sei ...eu sei, acontece que hoje moro sozinha, minha mãe abandonou a nossa casa e foi embora. Por isso eu continuo usando essas meias. Mas eu tenho fé que na primeira oportunidade que ela passar por mim, em qualquer lugar em que eu esteja,ela vai me encontrar e me levará com ela, e voltaremos a ser uma família"
Assim sendo caro(a) leitor; há de convir que muitas pessoas existem, nessa cidade, solitárias e tristes, chorando um amor que se foi ou as oportunidades perdidas. As mais tristes, as mais vazias de carinho e as mais cheias de saudade,colocam meias amarelas na expectativa de que alguém as identifique, em meio a multidão, e as leve para a intimidade do próprio coração e de sua imanente existência, e assim, fazer parte de sua essência humana. São crianças, cujos pais as deixaram, um dia, em braços alheios, e têm sede de carinho e fome de afeto. São idosos recolhidos a lares e asilos, às dezenas. Ficam sentados em suas cadeiras, tomando sol, as pernas estendidas, aguardando que alguém identifique as suas “ já desbotadas” meias amarelas.
Aguardam gestos de carinho, atenções pequenas. Marcam no calendário, para não se perderem, a data da próxima visita, do aniversário, da festividade, do reencontro especial. Aguardam... esperam... imaginam...lera...sonham...
Mas, também são mulheres que se levantam todos os dias, saem de casa, andam pelas ruas, sempre a espera de alguém que partiu, retorne. Andam atrás de emprego, de notícias e muitas vezes de um lar. São mulheres que esperam que o filho que tomou o rumo do mundo e enveredou pelo caminho das drogas, da delinquência e da intolerância, volte para o seio de sua família e retome os trilhos da prosperidade. São almas solitárias, lesadas na afetividade e machucadas na esperança. Carentes...talvez ! Pessoas que estão longe da pessoa amada, ou outras que não podem tê-lo como deveria.
O amor, sem dúvida, é lei da vida. Ninguém no mundo pode medir a resistência de um coração quando abandonado ou desprezado por outro e nem pode aquilatar a qualidade das reações que virão daqueles que emurchecem aos poucos, na dor da afeição incompreendida. Por isso nesse dia da mulher; aliás nessa semana da mulher. Se você perceber alguém que estiver usando meias amarelas, por gentileza: pensemos se não é esse o momento de reconstruir, acreditar em Deus, agradecer a quem te ajudou e ver ferver a esperança. Eu sei tanto quanto você como é difícil viver nesse mundo, com aflições, com transtornos, com falsas amizades, o dinheiro carecendo de guarida, e posses que de repente nos são ausentes. Mas a paciência, a perseverança e o otimismo precisam prevalecer. Mulheres do Mato Grosso do Sul tenham uma excelente semana!.
AUTOR: Rosildo Barcellos - Articulista