Apesar da soja ocupar a maior parte das terras para lavoura no Estado, é a mandioca um dos cereais mais consumidos pelo sul-mato-grossenses, e chega a 23 kg per capita, 124% maior que o consumo nacional. De olho neste mercado consumidor, o Mato Grosso do Sul já é o segundo maior produtor brasileiro de farinha de mandioca (ou fécula) e um dos principais fornecedores para indústrias de outras regiões. São aproximadamente oito mil famílias atuando na atividade, mil apenas no município de Ivinhema.
Dados da Embrapa indicam produção de 690 mil toneladas da raiz em área de 31.805 hectares no Estado. São 25 fecularias atuando em diversos municípios, um crescimento de 13,9% nos últimos anos. Mas a predileção da população, é claro, é pela mandioca cozida de mesa para acompanhar o churrasco.
Agora uma nova variedade de mandioca capaz de produzir, já no primeiro ciclo, 45% a mais de raízes e 51% a mais de amido está sendo testada no Estado, mais precisamente na região de Naviraí. Esse desempenho é registrado nos experimentos da BRS 420 comparando às cultivares usadas no centro-sul do País, região para a qual a nova raiz foi projetada.
Ela também é adaptada ao plantio direto, prática em expansão na região, que confere estabilidade produtiva e conservação ambiental. A região centro-sul concentra 80% da produção brasileira de fécula de mandioca, o amido extraído da raiz.
“A variedade apresenta excelente comportamento produtivo tanto em colheitas precoces, de dez a 12 meses após o plantio, quanto tardias, até 24 meses, o que assegura flexibilidade de colheita e amplia a janela de comercialização,” informa o pesquisador Marco Antonio Rangel, que atua no campo avançado da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) localizado na Embrapa Soja (PR).
“Quando a gente fala que é precoce, pode parecer que só produz no primeiro ciclo, mas não. No segundo, ela é também muito produtiva. Em um ano como este, por exemplo, em que os preços estão de razoáveis a bons, o produtor já tem opção de colheita no primeiro ciclo. E em um ano em que o preço não estiver tão bom, o produtor pode optar por colher depois”, ressalta Rangel, que é o responsável pelo trabalho de avaliação e validação do material na região. A BRS 420 é oriunda do programa de melhoramento genético da mandioca da Embrapa Cerrados (DF).
Ele ressalta que o lançamento da cultivar procura atender à demanda número um da cadeia produtiva no centro-sul: a diversificação de variedades.
Segundo ele, a BRS 420 chegou a ultrapassar a produção de 60 toneladas por hectare, nos experimentos. Em pequenas áreas de produtores, ela tem superado 50 toneladas por hectare no primeiro ciclo. “Hoje, infelizmente, temos visto na região as variedades locais ficarem no primeiro ciclo em torno de 20 toneladas e, no segundo, nem isso”, conta.
ADAPTADO PLANTIO DRETO À MECANIZAÇÃO
Na maioria dos ambientes de experimentação, os pesquisadores utilizaram o sistema de plantio direto (SPD) sobre pastagens ou restos de culturas anuais. Também chamado de plantio mínimo ou reduzido, o SPD preconiza o não revolvimento do solo e é utilizado em grandes culturas de grãos, como milho, soja e trigo.
“Oitenta por cento dos ambientes em que a variedade está sendo trabalhada são de plantio direto. A BRS 420 é muito adaptada a esse sistema. Responde bem em qualquer espécie de palhada, em vários ambientes no Paraná e Mato Grosso do Sul, e também em São Paulo está indo bem, embora ainda não esteja recomendada para lá. É um material estável, seguro, precoce e produtivo”, pontua Rangel.
Trata-se também de uma variedade muito adaptada à mecanização. O pesquisador relata que foi feito um trabalho com um protótipo de máquina colhedora e, dos materiais testados, foi o que apresentou melhor rendimento de colheita, com perdas bem inferiores à colheita manual. “Por isso, no momento em que a colhedora de raízes se transformar em uma realidade, a cultivar já indica potencial forte de adaptação a essa máquina”, avalia. (Com informações Sul News).