Processos que antes eram morosos, com elevada demanda de mão de obra e gasto energético, estão se tornando cada vez mais simples. E o que é melhor: facilitando a vida das pessoas e aumentando a produtividade do trabalho. Na década de 1970, a modernização da agricultura baseou-se em um tripé: crédito rural, extensão rural e pesquisa agrícola. Dessa forma, as peças fundamentais para o crescimento da produtividade agrícola estariam alicerçadas na tecnologia.
Com o conhecimento proporcionado aos agricultores, o que antes era uma atividade atrasada, transforma-se num setor dinâmico, com efeitos espetaculares sobre toda a economia brasileira, gerando renda e empregos. O Brasil que, até meados do século XX, era um grande importador de alimentos e fibra, transforma-se num grande exportador desses produtos. Recentemente, o Brasil tornou-se o segundo maior exportador de algodão. Toda essa espetacular transformação se deve ao modelo de pesquisa agrícola adotado no Brasil e à capacidade empreendedora dos agricultores brasileiros.
Agora, estamos em uma nova “onda”, quando a automação dos processos é uma realidade. A agricultura digital cresce em todas as regiões brasileiras. A escala deste crescimento é variável entre regiões, entre agricultores e entre atividades. Em Mato Grosso do Sul, temos fazenda onde a produção de leite é totalmente robotizada. Esse sistema se diferencia dos demais pelo nível da mão de obra necessária, padrão genético dos animais e modelo de produção. Sistema de produção intensivo e integrado é a chave para o sucesso.
O telefone celular, com o surgimento dos aplicativos, está se tornando uma ferramenta da maior relevância para o agricultor. Apenas para citar um exemplo, o aplicativo ZARC – Plantio Certo (bit.ly/34vJ8XT) desenvolvido pela Embrapa disponibiliza para o agricultor em fração de segundos um conjunto de informações que minimizam sobremaneira riscos da atividade agrícola. Diversas outras ferramentas estão disponíveis, todas elas trazem consigo um conjunto muito grande de informações que, se devidamente utilizadas, irão contribuir para a melhoria da produtividade.
Já é possível controlar remotamente o desempenho de uma máquina que está realizando a semeadura de soja, por exemplo, além de um sem número de outras atividades da maior relevância quando se pensa em melhoria da produtividade dos fatores de produção. Por outro lado, é preciso cada vez mais conhecimento para que possamos transformar em informações os dados que são coletados pelas mais variadas formas de sensores, inclusive na estação meteorológica. Sabendo processar e interpretar corretamente os dados, é possível tomar decisão sobre quando realizar uma pulverização para o controle de pragas, por exemplo. Com a utilização de sensores que são capazes de detectar a inversão térmica pode-se evitar, por exemplo, a deriva de um herbicida.
Talvez, um dos maiores desafios da agricultura brasileira seja a questão de renda da atividade. Muitas vezes tem-se altos faturamentos, mas a rentabilidade é baixa. Nesta situação, a atividade enquanto negócio está sob forte ameaça.
Com a automação bem planejada, é possível melhorar a produtividade e, por conseguinte, a rentabilidade. Exemplos não faltam, vamos nos ater a apenas um: a agricultura de precisão. Se as ferramentas disponíveis forem adequadamente utilizadas, é possível otimizar o uso de fertilizantes químicos numa área, de tal forma, que esta se torne mais uniforme do ponto de vista de química do solo e, consequentemente, há melhoria da produtividade de soja, de algodão de milho, etc., às vezes até com redução do custo de produção. É o caso da adubação em taxa variável, cujo fertilizante é aplicado numa área com doses diferenciadas de acordo com a necessidade.
Graças aos avanços na área de tecnologia de informação, hoje é possível utilizar inseticidas, herbicidas e reguladores de crescimento em taxa variável. Com isso, o custo com esses produtos é reduzido, os impactos ao meio ambiente também são minimizados. A conectividade nas fazendas ainda é um desafio para implementação da agricultura digital. No entanto, este desafio deverá ser minimizado muito em breve.
A combinação entre tecnologia, conhecimento e capacidade de implementação é fundamental para que realmente ocorra o desenvolvimento. Assim, fica evidente que a automação por si só não é capaz de promover transformações, mas é o meio para que isto aconteça. Posto isso, não nos restam dúvidas sobre a importância do conhecimento para que as transformações necessárias para a melhoria da produtividade e da rentabilidade das atividades agropecuárias possam efetivamente ocorrer. A automação, com certeza, irá contribuir para a melhoria da produtividade da agricultura.
Com as transformações em curso, as unidades de produção agropecuária se tornarão verdadeiros parques tecnológicos de ponta, que trarão benefícios para toda a sociedade.
AUTOR: Fernando Mendes Lamas - fernando.lamas@embrpa.br Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste.