“Nós vamos entrar com mil famílias pra dentro. Vamos pegar 500 famílias aqui, o restante vem de Eldorado, Dourados, Rio Brilhantes, Antonio João, Tacuru e Sete Quedas[sic]”. O recorte de áudio que circula pelas redes sociais seria de um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Mato Grosso do Sul. O grupo estaria preparando uma mega invasão no Sul do Estado, com o objetivo de montar um acampamento na cidade de Caarapó. O plano deixou fazendeiros da região em alerta e a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) monitora situação, que já foi motivo de conflitos no passado. (Ouça o áudio abaixo).
Conforme apurado pelo Correio do Estado, um grupo teria sido criado num aplicativo de mensagens, para que os interessados pudessem trocar informações. Em um dos áudios obtidos pela reportagem, o administrador afirma que criou o grupo para que a invasão fosse organizada. “Pessoal, esse grupo foi criado para que nós possamos nos organizar para criar um assentamento rural em Caarapó, com objetivo de acomodar pessoas que tem interesse só em ter um pedacinho de terra para plantar e ter o sustento da sua casa. Eu coloquei várias pessoas, mas se as pessoas que eu adicionei não tiver interesse fiquem a vontade para poder sair[sic]”, afirma.
Em outra mensagem, o interlocutor informa que o local onde deve ser instalado o acampamento ainda está indefinido, mas que um “levantamento” está sendo realizado para escolha do “melhor lugar”. “Quanto ao lugar que a gente vai instalar o nosso acampamento, a gente temos uma comissão e essa comissão está fazendo um levantamento e quem tá a frente dessa comissão pra poder achar o melhor lugar e fazer um estudo pra gente discutir é o “manga larga”, então ele tá em estudo ainda, vendo as possibilidades, onde é melhor, onde vai ser mais apropriado, tá ok? [sic]”, diz.
Em mais um áudio, um participante do grupo garante que não faltará “terra” para mil famílias. “Vocês podem ficar tranquilos, que essa luta é pra valer, por isso que nós estamos nos organizando. Quinhentas famílias ainda é pouco, nós temos que entrar com 1000 famílias, e se nós entrar com mil famílias, é mil lotes que tem ser feito. Então, assim, o número de pessoas é muito importante. Então, não pense que vai faltar terra, não. Não vai faltar terra para ninguém. A questão é organizar, é um por todos e todos por um [sic]”, publicou.
Um dos interlocutores das mensagens seria o advogado Cássio Amaral, que foi candidato a vereador em Caarapó, nas eleições 2016. Em alguns áudios, ele é tratado como líder do movimento e chega a dar orientações aos participantes do grupo sobre ações posteriores. Por telefone, o Correio do Estado com Amaral, mas as ligações não foram atendidas. Outros líderes do movimento também foram procurados, porém, não encontrados.
RECEIO
No dia 1º de agosto, o Sindicato Rural do município publicou uma nota sobre a suposta ameaça de invasão. Na nota, a entidade diz que nos últimos dias “recebeu diversas notificações de produtores rurais associados, preocupados com os conteúdos divulgados recentemente nas redes sociais, com autoria identificada”.
A diretoria do Sindicato Rural afirma, ainda, que fez uma reunião se reuniu para analisar os conteúdos e que lamenta que os conteúdos tenham sido divulgados “provocando transtornos a muitos de nós que ainda tenta superar os traumas e percas advindas de invasões indígenas” .
“Somos defensores dos produtores rurais e das propriedades legalmente adquiridas, bem como, a quem tem a plena titularidade da terra garantida pela constituição. Queremos tranquilizar aos produtores rurais de que não concordamos com invasões de nenhuma natureza. Afirmamos, entretanto, que, o Sindicato Rural é de acordo com a desapropriação e expropriação legítima e legal prevista em lei, baseada em negociação e diálogo sem prejuízo das partes. Por fim, estaremos fortes e unidos para legalmente e juridicamente defender nossas terras que são responsáveis pela economia de nosso município, estado e país”, diz a nota.
Procurado pelo Correio do Estado, o presidente do sindicato, Carlos Eduardo Macedo Marquez, conhecido como Kaká, disse que os produtores estão receosos e que já informou sobre a ameaça ao secretário de segurança pública. “Estamos preocupados, porque eles falam em áudio que eles vão reunir mil famílias. Não é questão de medo, é questão que o produtor tem sua propriedade e tem receio de ser invadida. É de direto deles ter um pedaço de terra, mas legalmente, não com invasão, porque o produtor rural também tem o direito dele”, considera.
MONITORAMENTO
O secretário de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, Antonio Carlos Videira, disse que a Sejusp está monitorando a situação. “Diante do comunicado feito pelo Sindicato Rural do município, a Sejusp designou que equipes da Superintendência de Inteligência realizem diligências no município de Caarapó e região, para colher mais informações sobre o fato, por enquanto, é que temos”, finalizou. (Com informações Sul News).