"Bem triste, as primeiras visitas têm mostrado um cenário desolador, de grande dificuldade por parte dos produtores, que realmente não tinham condições de enfrentar sozinhos esses incêndios que aconteceram". É assim que resume o engenheiro agrônomo e técnico do Senar-MS, Daniel Comiran Dallasta, que nesta semana começou a visitar regiões do Pantanal atingidas pela seca e pelos incêndios florestais, para fazer um levantamento dos prejuízos sofridos pelos produtores rurais nas áreas atingidas.
Daniel faz parte de um grupo de 20 técnicos do Senar-MS que integram a força-tarefa “SuperAção Pantanal”, um programa de apoio e recuperação aos produtores rurais que tiveram suas propriedades afetadas pelos incêndios no bioma. A Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de MS) identificou que mais de 500 propriedades rurais de Mato Grosso do Sul, localizadas no Pantanal, foram atingidas entre junho e 10 de agosto de 2024.
O técnico, que está trabalhando na região do Pantanal de Aquidauana, estrada MS-171, a cerca de 90 quilômetros da BR-262, conversou por telefone com a coluna Lado Rural na tarde de sexta-feira, 20, relatando que a localidade onde ele faz o levantamento é exatamente aquela onde o incêndio teve seu ponto de ignição com um caminhão que atolou e acabou pegando fogo, iniciando um incêndio de grandes proporções e que atingiu as duas margens do Rio Aquidauana, avançando pelas propriedades rurais bem distante do ponto inicial do incêndio.
DEVASTAÇÃO
"Essa propriedade que estamos visitando teve 81% de sua área atingida pelo fogo, mas tem fazenda que registrou 100% de área queimada", relata o técnico do Senar. Os prejuízos vão desde a destruição de cercas, com postes queimados e os arames quando submetidos a altas temperaturas acabam sendo inutilizados, a perda de pastos e de vegetação nativa. Não houve registro de perda de animais, mas os rebanhos para fugir do fogo e em busca de comida e água foram parar a 30 ou 40 quilômetros de distância das propriedades de origem.
Em estimativa recente feita à coluna pelo secretário Jaime Verruck, da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), só o custo de recuperação de cercas gira em torno de R$ 12 mil por quilômetro linear.
Há gado "embaralhado" de várias fazendas, o que vai dar bastante trabalho para fazer a apartação. Com cercas queimadas e sem porteiras, não há mais limites entre as fazendas para o gado e o animal sai perambulando em busca de comida e água. "As baías estão secas ou secando e quem não se preparou escavando poços e instalou energia solar para bombear água para reservatórios vai ter mais dificuldades", relata o profissional que está no local.
Nesse cenário desolador citado por Daniel Dallasta, há também a questão nutricional do gado. "São animais bastante debilitados, alguns fazendeiros estão optando por vender os rebanhos no estado em que se encontram com medo até de perderem os bezerros que estão ao pé da vaca, antes que as mães piorem o score corporal".
"O prejuízo financeiro é certo. As vacas debilitadas não têm a mínima condição de emprenhar nessa estação de monta e o Pantanal, como todo mundo sabe é o maior produtor de bezerros do Estado. Tem fazenda em que a perda de produção nesse sentido será de mais de 80%", calcula o técnico do Senar.
Outras propriedades estão optando por suplementar o animal no cocho, com ração balanceada e também com feno e volumoso, mas a oferta destes suplementos não é suficiente para atender a demanda, além do custo ser alto. Há propriedades localizadas em regiões isoladas do Pantanal, o que inviabiliza a chegada de alimentos para esses animais.
O diagnóstico é que, chovendo regularmente daqui para a frente, os pastos atingidos pela seca e pelo fogo – como são pastagens naturais e mais resistentes – demorem de 40 a 60 dias para que o gado possa pastar nessas áreas novamente.
PANTANAL TEM CICLO DE CRIA PECULIAR
Especialmente no Pantanal onde os índices produtivos são mais baixos que no restante do estado do MS, em função das características intrínsecas do bioma, resulta em margens brutas menores nas propriedades rurais, e oscilações negativas no valor do bezerro causam prejuízos aos produtores.
A pecuária de cria é uma atividade de ciclo longo, onde desde a prenhez das matrizes até a desmama dos bezerros são aproximadamente 18 meses. Por estes motivos, criar soluções, ferramentas e condições para que o produtor rural permaneça nessa atividade são fundamentais para a sustentabilidade da economia no Pantanal.
Segundo boletim da Famasul, em 2023 o Pantanal, considerando os municípios de Aquidauana, Coxim, Ladário, Corumbá, Miranda, Porto Murtinho e Rio Verde de Mato Grosso, tinha um rebanho de 3,69 milhões de cabeças de bovinos. Cerca de 60% desse rebanho está em Corumbá que, segundo pesquisa do IBGE, fechou o ano passado como segundo município do País em tamanho de rebanho.
O perfil do rebanho em Corumbá em 2022 era dividido em: 0 a 12 meses (20,27%); 13 a 24 meses (15,75%); 25 a 36 meses (13,33%) e +36 meses (50,56%) sendo o município com maior proporção de animais com mais de 36 meses no Estado. (Com informações Campo Grande News).