Depois de subir ininterruptamente desde o dia 3 de janeiro, o nível do Rio Paraguai, na régua de Ladário, deu sinais de que chegou ao pico nesta sexta-feira (30) e começou a baixar. Ontem, alcançou quatro metros e oito centímetros. Neste sábado (01), recuou para 4,06.
Isso não significa, necessariamente, que não volte a subir alguns centímetros nos próximos dias, mas é a primeira vez no ano que a Marinha registrou recuo de dois centímetros de um dia para outro. E, conforme já previa o pesquisador Carlos Padovani, da Embrapa Pantanal, o pico deste ano ficará próximo dos quatro metros, nível em que o rio normalmente já começa a sair do leito e a invadir algumas planícies pantaneiras.
O nível ficou longe da última cheia, em 2018, quando atingiu 5,35 metros em Ladário, que é referência para a navegação e para os pesquisadores que acompanhas as cheias no Pantanal, e alagou a maior parte da planície. Porém, este foi o maior nível dos últimos cinco anos
A última vez que havia chegado perto disso foi em 17 de julho de 2019, quando o pico ficou em 3,92 metros. Nos anos seguintes, por conta da escassez de chuvas em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, ficou longe disso.
Em 2022, o máximo foi de 2,64 metros, também no dia 30 de junho. No ano anterior, o pico nem mesmo atingiu os dois metros. O máximo ficou em 1,88 metro, no dia 12 de abril. Em 2020, o nível máximo chegou a 2,10 metros, no dia 8 de junho daquele ano.
No dia 2 de janeiro de 2023 o rio estava com apenas 32 centímetros em Ladário. No dia seguinte, a Marinha registrou alta de seis centímetros. Agora, seis meses e 3,76 metros depois, esta tendência de alta foi interrompida neste sábado.
Além das dificuldades no transporte hidroviário, estes anos de estiagem foram marcados pelas queimadas na planície pantaneira, que começavam já a partir do final de abril. Neste ano, além da melhora do nível do principal rio pantaneiro, o período de chuvas também se estendeu e junho teve a maior quantidade precipitações da última década na região, o que deixou a vegetação verde e por isso praticamente não há registro de queimadas.
HIDROVIA
Além de ser salutar para o turismo e o meio ambiente pantaneiro, a cheia do Rio Paraguai é fundamental para a economia de Mato Grosso do Sul. Quando o nível fica alto, o transporte de minérios pode ser feito durante nove ou dez meses do ano.
Nos últimos três anos, contudo, o transporte ficou praticamente suspenso entre agosto e março. A navegabilidade ocorre normalmente quando o rio atinge 1,5 metro na régua de Ladário. Em 2023 foram escoadas, depois que o nível melhorou, 500 mil toneladas de minério por mês a partir de Corumbá e Ladário.
Porém, com as estiagens dos últimos três anos, praticamente todo este minério passou a ser despachado por caminhões. Isso significou cerca de 200 veículos por dia nas rodovias do Estado, principalmente na BR-262, entre Corumbá e Campo Grande. Em 2018, ano da última cheia, a navegação não precisou ser suspensa nem mesmo em novembro e dezembro.
Mas não é somente o transporte de minérios que é beneficiado pela cheia do Rio Paraguai. As empresas que operam no embarque e desembarque de grãos e açúcar em Porto Murtinho esperam que com o alto nível do rio consigam bater recorde neste ano, despachando até 1,5 milhão de toneladas, principalmente por causa da quebra da safra de soja na Argentina, que está importando grãos pela hidrovia.
No ano passado, foram apenas 300 mil toneladas, sendo que os terminais têm capacidade para movimentar até dois milhões de toneladas por ano. Nos primeiros quatro primeiros meses do ano foram pouco mais 400 mil toneladas, o que é 371% a mais que em igual período do ano passado.
De acordo com o boletim Aquaviário da ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), de janeiro a abril deste ano, Mato Grosso do Sul elevou em 60% o transporte de cargas pela hidrovia na comparação com o ano passado. Em 2023 foram quase 2,4 milhões de toneladas. Desse montante, o destaque foram os minérios, com 2 milhões de toneladas. (Com informações Jornal Correio do Estado).