Com as fazendas alagadas há cerca de quatro meses, fazendeiros de Batayporã culpam o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a usina de Itaipu pelas inundações que nesta semana voltaram a se intensificar. “De ontem para hoje subiu um metro aqui. Eles abrem as comportas lá pra cima e não liberam a água lá pra baixo, em Itaipu. É um crime que fazem com a gente”.
A denúncia e o desabafo são do fazendeiro Paulo Carvalho, que no começo de fevereiro teve de retirar seus dois mil bovinos da fazenda Pontal e deste então está com animais esparramados em diferentes fazendas ao longo de 60 quilômetros de sua propriedade.
“O prejuízo é incalculável. Perdi estradas, cercas, casa e móveis dos funcionários, o gado emagreceu, as vacas não vão parir e nem sei mais quantos animais morreram e ficaram feridos por conta dos remanejamentos”, explica o fazendeiro, que diz “estar literalmente doido por causa desta situação”. Ele só consegue chegar de barco à sede da fazenda. E mesmo quando a água baixar, não terá acesso, pois as estradas sumiram, diz ele
O problema começou com a abertura das comportas de Porto Primavera no dia 18 de janeiro. Mas o pior de todos os períodos deve acontecer nesta semana. A usina de Porto Primavera avisou a Defesa Civil de Batayporã que vai liberar até 14,7 mil metros cúbicos de água por segundo a partir de hoje (21). Será a maior vazão desde o começo do período chuvoso. Além disso, tem o Rio Paranapanema, que também está liberando cerca de 3 mil metros cúbicos por segundo. Só a soma dos dois, sem contabilizar outros rios que desembocam na região, são em torno de 18 mil metros cúbicos por segundo. E, conforme o site do ONS, Itaipu estava liberando somente 12,2 mil cúbicos até quarta-feira, última data com atualização dos dados no site do ONS.
“Está aí a charada. Um monte de água descendo e ela fica represada por Itaipu. Aí fica a gente aqui sofrendo com os alagamentos. A casa do meu funcionário que está ilhado há meses lá na fazenda foi invadida mais uma vez ontem. É a terceira vez que a gente vai ter que trocar quase todos móveis deles”, reclama Paulo Carvalho, que é somente um dos proprietários das sete fazendas de Batayporã que voltaram a ficar alagadas nesta semana.
Segundo ele, não existe mistério. “No mesmo dia em que abre as comportas de Ilha Solteira, por exemplo, já tem que abrir lá em Itaipu. Aí a água nivela e não provoca esse crime que estão fazendo com a gente. Você vai pra cima da Cesp, eles alegam que não é com eles. Falam que é com o ONS, que é um órgão do Governo Federal. Todos eles sabem que é só abrir. Somos nós os trouxas, os burros que temos que sofrer com essa água. Cadê o fdp, lazarento pra abrir essa p*** lá em baixo. Eles querem provocar o caos. Só pode ser proposital isso. Desculpe até as palavras, eu tô fora da casinha. É muito prejuízo, é muita perda. Não tem quem aguenta”.
E a teoria do fazendeiro realmente se confirma com a checagem dos dados no site do ONS. No último dia 15, por exemplo, Porto Primavera liberava 10 mil metros cúbicos por segundo. E além disso, eram cerca de dois mil metros cúbicos de Paranapanema e toda a água dos rios que desembocam no Rio Paraná logo depois. Em Itaipu, por sua vez, só passavam 8,8 mil metros cúbicos. Ou seja, a água desce e fica represada em Foz do Iguaçu.
HISTÓRICO
Os alagamentos começaram ainda no final de janeiro e se estenderam até o começo de abril, já que as comportas em Porto Primavera foram fechadas em 31 de março. Porém, quando a água já havia recuado de boa parte dos nove mil hectares alagados, as comportas foram reabertas na semana passada, com vazão máxima de dez mil metros cúbicos.
Nesta quarta-feira, porém, a Cesp informou que aumentaria esta vazão para até 13 mil metros cúbicos e a partir de hoje aconteceria nova elevação, para até 14,7 mil metros cúbicos. E foi por conta do aumento para 13 mil metros que a casa do peão do fazendeiro Paulo Carvalho foi invadida pela terceira vez neste ano, algo que nunca havia acontecido.
“As hidrelétricas são intervenções humanas. Se o rio seguisse seu percurso normal, essas inundações não aconteceriam. Então, alguém precisa ser responsabilizado”, defende. Ele estima que por conta dos deslocamentos e falta de pastagens, cada animal tenha perdido pelo menos duas arrobas de peso. Ele tem pouco mais de dois mil bovinos e com a arroba a R$ 270,00, a perda de quatro mil arrobas passa de um milhão de reais de prejuízo.
Estimativas da Defesa Civil de Batayporã apontam que pelo menos sete mil animais tiveram de ser remanejados na região por causa do mesmo problema. E, mesmo depois que a água baixar serão necessários dois a três meses para que o pasto cresça e esteja em condições para alimentar os rebanhos. (Com informações Jornal Correio do Estado).