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Negar o Carnaval é uma coisa que a gente não vai conseguir, diz Eduardo


Diretor-presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Eduardo Mendes Pinto concedeu entrevista ao jornal sobre os preparativos do setor para a realização do Carnaval em MS
Eduardo Mendes, diretor-presidente da Fundação de Cultura de MS. (Foto: Divulgação)

 

"E acredito que possamos ter, no futuro, várias formas de Carnaval, com mais crianças, mais jovens e também com alguns religiosos que usam o próprio Carnaval para fazer algo diferente". - Gerson Oliveira/ Correio do Estado

À frente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS) desde agosto de 2023, no governo de Eduardo Riedel (PSDB), o diretor-presidente Eduardo Mendes Pinto é o entrevistado desta semana do jornal Correio do Estado.

O diretor da Fundação de Cultura detalhou como o setor investiu nos preparativos para o Carnaval do Estado este ano e falou sobre a importância de preservar essa manifestação popular em Mato Grosso do Sul, que vem crescendo cada vez mais e gerando emprego e renda para a população durante a época da festividade.

Outros assuntos também foram abordados, entre eles, qual a imagem turística de Mato Grosso do Sul que a Fundação de Cultura quer passar para os visitantes do Estado, o incentivo à modernização dos museus e a aproximação de estudantes com as atividades culturais. Confira a entrevista.

- Como está sendo feito o investimento da Fundação de Cultura na organização do Carnaval e como esse período de festividade do carnaval de rua e das escolas de samba deve ser, tanto no interior do Estado como na Capital?

Nós anunciamos, no fim do ano passado, R$ 2,3 milhões como aporte do Carnaval, principalmente para as ligas de escola de samba de Campo Grande e Corumbá.

Então, em Campo Grande, nós tivemos R$ 1,2 milhão para as ligas de escola de samba, por meio da Liga das Entidades Carnavalescas de Campo Grande (Lienca), e um convênio firmado desse recurso, R$ 800 mil são oriundos da Fundação de Cultura e R$ 400 mil são de emenda do deputado federal Beto Pereira (PSDB).

É nós tivemos também o apoio, em Corumbá, do restante do montante para a Liga Independente das Escolas de Samba de Corumbá (Liesco) e também para a Liga Independente dos Blocos Carnavalescos de Corumbá (Liblocc).

É até interessante dizer que o Carnaval não é só festa. O Carnaval é uma preservação da nossa cultura. Porque, queira ou não, o Brasil é um país reconhecido e conhecido pelo Carnaval”.

E Lá nós também tivemos uma emenda do deputado Dagoberto Nogueira (PSDB), no valor de R$ 300 mil, ajudando tanto os blocos como a liga.

Além disso, nós tivemos um apoio para os blocos de Carnaval daqui de Campo Grande. É um aporte financeiro de quase R$ 500 mil, para ser investido em estrutura, palco, tenda, iluminação e som para 14 blocos de Carnaval. E tivemos também o apoio para 17 municípios do Estado, totalizando 19 cidades de MS com aporte.

Nós estamos em ano eleitoral, então, quem fez Carnaval anteriormente vai repetir neste ano, com a ajuda do governo do Estado. E como é um ano que ninguém cria, então, ficaram as mesmas cidades que tiveram carnavais nos anos anteriores.

- Qual a importância que o senhor vê no Carnaval para a cultura de Mato Grosso do Sul e como esse período movimenta a economia no Estado?

É até interessante dizer que o Carnaval não é só festa. O Carnaval é uma preservação da nossa cultura. Porque, queira ou não, o Brasil é um país reconhecido e conhecido pelo Carnaval. A gente só precisa se alinhar para que a festa seja bonita, organizada.

O governo do Estado criou um projeto muito bacana, com as regras do rolê, com a vontade de fazer um bom Carnaval.

Inclusive, na semana passada, nós fizemos um esquenta de Carnaval convidando os blocos, as escolas de samba, juntamente com todos os órgãos que trabalham no Carnaval, e cada um pôde explicar para os blocos qual é a sua função.

Então, nós chamamos o Detran, a Agetran, a prefeitura, os conselhos estaduais e municipais da Juventude, da Criança, até por conta da venda de bebidas alcoólicas, chamamos a Defensoria Pública, que estará à disposição, e todos os órgãos, como Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, todos os que trabalham no Carnaval.

O Carnaval é um momento complicado, em que temos que coibir a violência. Acho que a campanha do governo do Estado e do Brasil inteiro – “Não é Não” – é sobre o respeito no Carnaval.

Também acho que é muito importante frisarmos a questão da economia criativa. No Carnaval, nós temos as costureiras, os ambulantes. Foram mais de 250 cadastrados só pela Prefeitura de Campo Grande para fazer a venda de alimentos e bebidas durante o Carnaval.

Nós temos todo um leque de outras profissões, de pessoas que trabalham em virtude do Carnaval. Então, é muito importante lembrarmos a questão da economia presente no nosso Carnaval, e não só aqui em Mato Grosso do Sul, mas de maneira geral, em todo o Brasil.

- Durante o Carnaval, há sempre questionamentos da população sobre segurança, por causa dos blocos. O que você pensa sobre algumas opiniões que questionam a necessidade de investir no Carnaval do Estado, dizendo que ele não faz parte da tradição de MS?

Olha, na verdade, as grandes movimentações culturais no Brasil são sazonais. O Carnaval, que já foi muito valorizado durante uma época, ficou mais em baixa e agora voltou a crescer. Eu acho que o Carnaval em Mato Grosso do Sul está em uma grande crescente.

Corumbá, realmente, é um caso à parte. Lá, nós temos um Carnaval pujante há muito tempo. Os carnavalescos de Corumbá vão para São Paulo com muita antecedência, compram os adereços, levam para os seus barracões, fazem as fantasias com um belíssimo Carnaval. Eu acho que neste ano nós teremos o Carnaval mais bonito de Campo Grande.

E acredito que possamos ter, no futuro, várias formas de Carnaval, com mais crianças, mais jovens e também com alguns religiosos que usam o próprio Carnaval para fazer algo diferente.

Negar o Carnaval é uma coisa que a gente não vai conseguir. Ele está enraizado na nossa cultura. Ele vai acontecer, espero eu, da forma mais tranquila e bonita possível.

- Qual imagem que a Fundação de Cultura do Estado almeja passar para outros estados sobre o que Mato Grosso do Sul tem de diferencial em aspectos turísticos e culturais?

A gente tem muito a mostrar de Mato Grosso do Sul na questão das belezas naturais não só para o Brasil, mas para o mundo. O governo do Estado tem que pensar em todos, na situação de 79 municípios, a gente tem que fortificar e valorizar as nossas manifestações culturais do interior.

Nós temos festas regionais lindas, como o Toro Candil, em Porto Mortinho, temos a festa da linguiça, o porco no rolete. E qual é a ideia? Potencializar isso por meio de um programa nosso, que é a rota gastronômica, trazendo ainda mais interações culturais.

Então, não é só um show musical, podemos levar o hip hop, a dança, as performances, o nosso artesanato, para gerar renda.

Então, a ideia é que a gente possa ter, ao longo desses 3 anos, começando agora, do dia 24 em diante, atividades que valorizem a nossa cultura em todo o Estado. Porque, se a gente não sabe quem nós fomos, a gente não vai se entender hoje e nem para projetar o futuro.

- O governo anunciou em janeiro que vai revitalizar o Museu de Arte Contemporânea (Marco). Gostaria de saber se, na administração dos museus do Estado, existem iniciativas para atrair mais pessoas. É necessário realizar melhorias nos museus para atrair mais público?

Precisamos criar mais interatividade. Nós temos que entender a evolução do mundo, o maior problema de hoje, com relação aos jovens e aos adolescentes, é a questão de eles estarem muito presos à tecnologia.

E como trazer esse público que daqui a cinco, seis ou sete anos estará frequentando os nossos museus? É trazendo essa interatividade para dentro dos museus.

Não tem mais como a gente pensar no Marco apenas com a obra de arte na parede. A gente tem que pensar em uma exposição imersiva, em que a criança, o jovem ou mesmo o adulto possam tocar na obra, que eles tenham um totem com o qual possam entender o que está acontecendo.

Hoje ninguém mais se limita apenas a olhar para um quadro e falar: “Ah, tá, fulano de tal pintou”. Não. Agora, querem conhecer o artista Isaac de Oliveira, querem ter um touch [tela interativa] ali, um botão para apertar e ter interatividade.

 

Eduardo Mendes Pinto

Atual diretor-presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, é bacharel em Direito, pela Universidade Ibirapuera, e nascido em São Paulo.

Já atuou como radialista, diretor comercial do jornal impresso Karandá, em Naviraí, professor de Direito na UEMS, vice-presidente regional da Associação Estadual de Rádio e TV do Estado, coordenador regional da Casa Civil e assessor especial do secretário Marcelo Miranda.

Então, nós teremos uma sala imersiva no Marco, nós estamos até conversando com a iniciativa privada para que possa nos ajudar também com relação a isso, como foi feito no Bioparque: nós temos lá um museu interativo agora, muito interessante, que foi criado por meio de um recurso da Petrobras.

Então, a nossa ideia é entrar no universo dos jovens. Nós precisamos nos movimentar no mundo geek, para começarmos a interagir com isso e colocarmos a cultura nesse caminho.

- A FCMS pretende manter iniciativas que ligam educação e cultura, levando turmas de escolas públicas para visitar pontos históricos e turísticos e outros locais culturais, como museus?

Eu tenho uma reunião com o Núcleo de Cultura e Arte da Secretaria de Estado de Educação, e o nosso secretário de Educação é muito sensível a esta causa também e vai disponibilizar um grande recurso para que a gente possa, no contraturno das escolas estaduais, fornece também aulas de Arte.

É uma coisa interessante: muitos casos de evasão escolar ou de crianças que são um problema na escola, na verdade, é porque são artistas incompreendidos.

A arte se manifesta de várias formas, e muitos alunos que às vezes não estão ali para a ciência, para a matemática, são artistas de mão cheia, e a gente tem de aprender a lidar com isso.

Nós vamos oportunizar, inclusive, na primeira semana de abril, uma Semana de Teatro no Boca de Cena, que é um circo que vai acontecer aqui no complexo Octávio Guizzo, no prédio da Fundação [de Cultura de MS] também, com apresentações circenses, teatrais e também de dança.

Mas é uma grande preocupação nossa, e até discutimos com o colegiado do teatro, como trazer o público juvenil para dentro do teatro.

Então, nós vamos disponibilizar peças no período da manhã para que os ônibus escolares tragam essas crianças em horário de aula para que elas possam acompanhar, porque, às vezes, marcando só no horário noturno, a criança não tem a disponibilidade e o pai não tem como trazer, então, nós faremos isso dentro do turno de aula para que a gente possa ter aqui crianças da Rede Municipal Ensino e da Rede Estadual de Ensino também.

Eu acho que isso tem que se estender a todas as semanas, como as de dança, do audiovisual, de música, para que a gente possa ter essa interação com jovens, primeiro, como plateia e, depois, quem sabe, um despertar para ser um artista ou um consumidor de arte.

- Qual é sua avaliação sobre o desenvolvimento e a evolução dos festivais de Bonito e América do Sul aqui no Estado?

Os festivais são a maior manifestação cultural que a gente tem dentro do nosso estado, eles são turbilhões de disciplinas artísticas acontecendo.

Nós temos desde gastronomia autoral, que ainda nem é reconhecida como pasta dentro da Cultura, mas a gente não pode deixar de colocar como cultura, até grandes shows musicais. Então, a gente tem teatro, circo, literatura, economia criativa, artesanato, uma infinidade de ações.

A gente não vai mudar isso. A nossa ideia é melhorar para que o Festival de Bonito fique cada vez mais plástico, chamando a atenção de turistas para o nosso estado e trazendo pessoas de fora do Brasil.

E o Festival América do Sul, que tem uma característica muito interessante: se você olhar para o mapa da América do Sul, ele está localizado no lugar do coração, então, quando a gente fala o coração da América do Sul, realmente o festival está ali, simbolizando essa ideia.

Ele tem essa característica de ser um festival sul-americano, e a ideia é deixá-lo com essa característica, trazendo atrações de diversos países, movimentando o Brasil na América do Sul e aproveitando para mostrar o Pantanal de Corumbá.

"Não tem mais como a gente pensar no Marco apenas com a obra de arte na parede. A gente tem que pensar em uma exposição imersiva, em que a criança, o jovem ou mesmo adulto possam tocar na obra”. (Com informações Jornal Correio do Estado).

 

 

 

 

 


Fonte: Jornal Correio do Estado